quinta-feira, 11 de março de 2010

Porque nunca me deste amor…

As pessoas que mais pensamos que não nos vão magoar e desiludir neste mundo, são as que mais nos magoam e nos deitam a baixo.
Sempre pensei que ele ia me dar amor, carinho, afecto tal como filha, pensei que tinha me amado desde o momento que nasci e me pegou nos seus braços.

O que é certo é que nunca disse nada para demonstrar que era amada tal como o devia fazer…
Tinha uma filha por ter, talvez tinha uma filha só mesmo para fazer dele escrava, faz isto e aquilo, e vai acolá ou ali, vai buscar isto ou aquilo…
Nunca tive a sorte de se sentar do meu lado e ter uma boa conversa e perguntar “filha estás bem, precisas de alguma coisa, se precisares o pai esta aqui”, nunca, nunca ouvi tal coisa na minha vida, até pelo contrário…

Nunca perguntou como iam os estudos, nunca perguntou se me faltava nada, se me sentia bem nos dias menos bons…
Não me lembro, de nunca o ter por perto quando estava doente, nunca, como pode ser isto possível?!

Nunca olhou por mim, se calhar para ele era uma espécie de bichinho de selva que me tinha de virar sozinha para tudo, se estava doente paciência, estava mal paciência, há-de passar, nunca quis saber de nada…

Era tão mau, quando me lembro dá arrepios e apetece gritar e chorar por aquilo que nunca tive, não falo de bens materiais, seria talvez uma pessoa mais feliz agora, se em criança nem tivesse brinquedos, mas tivesse amor de pai. Por falar em amor de pai, que é isso?

Vivi “novelas” que nem dá para acreditar que são realidades, vi maldades, sim muitas, vi choros, sim imensos e chorava também por ver certas coisas…
Não fazia sentido, revoltava-me, era tão inocente tão pequena e pensava: “Mas porquê que o meu pai a bate, porquê?” é ela que cuida de mim e me dá amor e faz o papel dele…
Porque ele também a faz sofrer, porquê?

Vejo a chorar, sinto que ela se sente tão mal, mas nunca imaginei o tal mal que estava, pois era apenas uma criança…

O que podia fazer, fazia, gritava, chorava para ele parar com aquilo, para a deixar, ela não tinha feito nada, e nem mesmo a ver-me chorar e a gritar, a ver aquela fúria toda que tinha a descarregar nela, nem mesmo assim ele parava…
Aguentei toda a minha infância a observar toda a maldade que ele tinha, não havia remédio, sempre sonhei em fugir e leva-la comigo (mãe), ela não merecia, ninguém merece…
Finalmente chegou o dia em que pude fazer algo, peguei poucas coisas e com ela sai porta a fora, vim embora, não aguentava mais, sai com uma dor tão grande no meu coração, pois toda a infância pensei que tudo poderia mudar e talvez um dia fosse tão feliz como nunca fui…
Saí, fui embora, não lá fui mais, e mesmo assim continua sem amor por mim, nada mudou, nada, piorou…

Se nunca tinha sentido amor de pai na minha vida, se nunca senti protecção a correr-me nas veias, adrenalina de ter um pai para tudo um pai de letra grande, não nunca senti isso, não senti nem nunca sentirei, porque as únicas palavras que fico dele marcadas são duras, frias, cruas, negras, e difícil de perdoar…
Habitou-me a ver que ele não tinha amor por mim, mas nunca me tinha dito que duvidava da sua paternidade… Mas disse, um dia ele o disse, e custa, custou, custará e nunca vou esquecer…
“Para mim tu morreste”, já não bastava a sua dúvida, ainda tinha de completar o diálogo com estas quatro palavras que tanto me custou ouvir…
E a onde esta o meu amor de pai? Não sei, nunca existiu nem existirá…
(…)

Após tudo isto só tenho de agradecer à mulher mais importante da minha vida, à minha mãe que esteve e esta sempre lá que preciso, ela é a minha Mãe com letra grande e sinto tanto amor da sua parte como sempre senti, sempre esteve por perto, preocupada, feliz quando eu também o estava, infeliz quando não estava bem, a dar forças quando elas faltavam… Ela esteve e está para tudo tal como eu para ela! Amo-te muito minha mãe!